domingo, 24 de janeiro de 2010

O ram-ram habitual

Isto por aqui continua "pretty much the same". Não há grandes novidades, pelo menos para já... Quem sabe nas próximas semanas haja grandes novidades...

A única diferença é que, como a Vanessa perdeu a carteira e não tem carta de condução, agora tenho que ser sempre eu a conduzir. Ora, como na última 5ª e 6ª eu fui mandado para muito longe e numa direcção completamente diferente dela, tivémos que acordar, nesses dois dias, às 07h00m. De resto tudo normal: casa, trabalho, lavar louça, ginásio, lavar louça, ir ao supermercado, lavar louça, cozinhar... a rotina habitual.

O trabalho, esse, corre bem: ainda na 6ª tive uma situação que em Portugal seria surreal e que mostra bem uma das diferenças entre trabalhar aqui e em Portugal. A história mete umas partes um bocado técnicas mas vou tentar abreviar ao máximo.

Se bem me lembro, eram umas 16h00m e liga uma utente para a farmácia a querer falar com o farmacêutico. Supostamente o pai da senhora tinha 93 anos e havia-lhe sido perscrito cefaclor (um antibiótico: uma cefalosporina) e a senhora estava com medo de lho dar porque ele era alérgico a penicilinas. Eu disse-lhe que o cefaclor não era uma penicilina mas que ainda assim a literatura indica que cerca de 5% das pessoas alérgicas a penicilina podem desenvolver reacções alérgicas a cefalosporinas (eu disse que a história era chata... já chegamos à parte interessante) mas que na idade dele, pior ainda seria continuar com  uma infecção, que eu não tinha forma de saber o quão séria era. Aconselhei, pois, a senhora a ligar ao médico e a pedir-lhe que trocasse o antibiótico, explicando-lhe o que eu tinha dito.

Eram uma 16h30m liga o médico para a farmácia. Queria falar comigo e saber o que se passava com esta questão do cefaclor. Comecei-lhe a dizer o mesmo mas o telefone estava com problemas. O médico vira-se para mim e diz-me: "Olhe, eu não o ouço bem mas estou numa clínica mesmo ao lado da farmácia. Vou já aí."

16h35m, o médico entra-me na farmácia. Diz-me que o utente tem uma infecção xpto (já não me lembro do nome), gram-positiva e que precisa mesmo de uma cefalosporina. Ok - digo-lhe eu - se quer uma cefalosporina mas o utente é alérgico a penicilina, então segundo o BNF (Prontuário Inglês) evite o cefaclor e escolha a cefixima, cefuroxima ou ceftriaxone. Como precisa que seja para gram-positiva pode ser o ceftriaxone. Vira-se para mim e diz-me: "Vou passar a receita".

Quando é que em Portugal um médico discutia comigo fosse o que fosse? Quando é que em Portugal um médico mudava uma receita por causa de algo que discutisse comigo? Quando é que em Portugal um médico saía da clínica e vinha falar comigo porque o telefone não estava bom?

4 comentários:

Anónimo disse...

Não há dúvida que ainda temos muito para evoluir...

Mãe

Nuno Gabriel disse...

Sem dúvida um post muito interessante, que vai de acordo ao estereótipo que tenho dos médicos em Portugal: pensam que o mundo gira à volta deles...

Isso é, sem dúvida, o melhor prémio que podes ter profissionalmente...falo claro do profissional de farmácia, não do poker:D

Abraço tananão!

yevgeny disse...

Ainda esta semana me ligaram para a farmácia com esta mesma questão!

Ao lidar com esta questão verifiquei com curiosidade que a informação mudou dos anteriores BNFs para o mais recente! Antes falavam em 10% e reacções alérgicas cruzadas com as Cefalosporinas, e agora falam em cerca de 5%.

Nenhuma verdade é absoluta, daí esta constante necessidade de actualização

Anónimo disse...

Sem dúvida alguma ai trabalha-se em equipa, tudo pelo bem estar do paciente.
jacky