A única diferença é que, como a Vanessa perdeu a carteira e não tem carta de condução, agora tenho que ser sempre eu a conduzir. Ora, como na última 5ª e 6ª eu fui mandado para muito longe e numa direcção completamente diferente dela, tivémos que acordar, nesses dois dias, às 07h00m. De resto tudo normal: casa, trabalho, lavar louça, ginásio, lavar louça, ir ao supermercado, lavar louça, cozinhar... a rotina habitual.
O trabalho, esse, corre bem: ainda na 6ª tive uma situação que em Portugal seria surreal e que mostra bem uma das diferenças entre trabalhar aqui e em Portugal. A história mete umas partes um bocado técnicas mas vou tentar abreviar ao máximo.
Se bem me lembro, eram umas 16h00m e liga uma utente para a farmácia a querer falar com o farmacêutico. Supostamente o pai da senhora tinha 93 anos e havia-lhe sido perscrito cefaclor (um antibiótico: uma cefalosporina) e a senhora estava com medo de lho dar porque ele era alérgico a penicilinas. Eu disse-lhe que o cefaclor não era uma penicilina mas que ainda assim a literatura indica que cerca de 5% das pessoas alérgicas a penicilina podem desenvolver reacções alérgicas a cefalosporinas (eu disse que a história era chata... já chegamos à parte interessante) mas que na idade dele, pior ainda seria continuar com uma infecção, que eu não tinha forma de saber o quão séria era. Aconselhei, pois, a senhora a ligar ao médico e a pedir-lhe que trocasse o antibiótico, explicando-lhe o que eu tinha dito.
Eram uma 16h30m liga o médico para a farmácia. Queria falar comigo e saber o que se passava com esta questão do cefaclor. Comecei-lhe a dizer o mesmo mas o telefone estava com problemas. O médico vira-se para mim e diz-me: "Olhe, eu não o ouço bem mas estou numa clínica mesmo ao lado da farmácia. Vou já aí."
16h35m, o médico entra-me na farmácia. Diz-me que o utente tem uma infecção xpto (já não me lembro do nome), gram-positiva e que precisa mesmo de uma cefalosporina. Ok - digo-lhe eu - se quer uma cefalosporina mas o utente é alérgico a penicilina, então segundo o BNF (Prontuário Inglês) evite o cefaclor e escolha a cefixima, cefuroxima ou ceftriaxone. Como precisa que seja para gram-positiva pode ser o ceftriaxone. Vira-se para mim e diz-me: "Vou passar a receita".
Quando é que em Portugal um médico discutia comigo fosse o que fosse? Quando é que em Portugal um médico mudava uma receita por causa de algo que discutisse comigo? Quando é que em Portugal um médico saía da clínica e vinha falar comigo porque o telefone não estava bom?
4 comentários:
Não há dúvida que ainda temos muito para evoluir...
Mãe
Sem dúvida um post muito interessante, que vai de acordo ao estereótipo que tenho dos médicos em Portugal: pensam que o mundo gira à volta deles...
Isso é, sem dúvida, o melhor prémio que podes ter profissionalmente...falo claro do profissional de farmácia, não do poker:D
Abraço tananão!
Ainda esta semana me ligaram para a farmácia com esta mesma questão!
Ao lidar com esta questão verifiquei com curiosidade que a informação mudou dos anteriores BNFs para o mais recente! Antes falavam em 10% e reacções alérgicas cruzadas com as Cefalosporinas, e agora falam em cerca de 5%.
Nenhuma verdade é absoluta, daí esta constante necessidade de actualização
Sem dúvida alguma ai trabalha-se em equipa, tudo pelo bem estar do paciente.
jacky
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