quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A romaria com a casa

Não tenho escrito nada, em primeiro lugar, porque não há assunto e, em segundo, porque agora tenho dois empregos. Dez horas e meia por dia sou farmacêutico, no resto do dia, enquanto não estou a dormir, sou comprador de casa, o que no UK é coisa para ocupar como um emprego.

Desde início de Maio, altura em que a nossa oferta pela casa foi aceite, que nos me vi metido numa odisseia de burocracia. Escolher o banco da hipoteca foi fácil: foi só marcar uma reunião com seis ou sete bancos, analisar as diferentes ofertas que tinham e comparar com mais dois escrutinadores de mercado, fazer o resumo para a Vanessa, decidirmos o que era melhor para nós e confirmar com o banco que escolhemos. A partir daí: abrir conta no banco escolhido, transferir débitos e entradas para esse banco, escolher seguros e ter hipoteca aprovada. 

Depois entrámos na parte dos solicitors (notário). No UK qualquer compra/venda de casa tem, tal como em Portugal, de ser supervisionada por um notário, a diferença está que aqui eles trabalham mesmo em prol de quem representam (comprador e vendedor) e são responsáveis por tudo o que envolve o negócio. Ao contrário de Portugal, onde o notário basicamente assiste à assinatura de papéis, aqui, se a casa tiver um defeito que eles não tenham detectado, eles são responsabilizados por isso.

Conclusão, só de pesquisas e averiguações, os meninos demoraram dois meses. Mas também creio que investigaram tudo o que pode ser invertigado. Na semana passada, por altura que recebemos os últimos  documentos que lhes tinhamos que enviar assinados, para se dar, finalmente, a troca de contratos que oficializa a compra/venda da casa; recebemos o relatório das pesquisas que as crianças fizeram. Posso dizer que é um calhamaço de folhas A4 com mais de 5cm de espessura. Passei os últimos três dias a tentar lê-lo. Temos ali relatórios energéticos, pesquisas ambientais, análises de águas, cópias de papéis do arquitecto, previsões de fenómenos naturais, registos de todos os gajos que registaram uma obra, num raio de 100m, nos ultimos 5 anos, e mais 4,99cm de papéis que ainda estou a tentar perceber. Felizmente, no final, mandam um documento de 15 páginas com a opinião deles sobre a compra e a aconselharem que se faça o negócio. 

Só que mesmo assim, ainda há uma luta do caneco para fazer. Há sempre mais um pormenor burocrático que falta. Hoje, por exemplo, precisava de transferir uma avultada soma aos solicitors para ser trocada com os solicitors da vendedora, na troca de contratos. Como tinha esse dinheiro em contas poupança, não pude fazer a transferência online. Liguei para o banco, fizeram-me seis perguntas de identificação, falhei uma: conta bloqueada. E nisto falta uma hora para eu começar a trabalhar.

Lá vai o surdo, num instante, à cidade para ir ao banco. Chega ao banco, falta um documento. Lá vai o surdo para casa, buscar o documento. E as horas a passsarem... E depois são precisos mil papéis para finalmente libertarem o dinheiro, fazerem a transferência, deixarem o surdo almoçar qualquer coisa em dez minutos e ir trabalhar.

Felizmente, creio que já há fumo branco e que até final do mês temos a casa em nosso nome e a chave na nossa mão. Depois, é contrarar alguém para tirar a alcatifa e pôr chão de gente, mobilar e tratar do jardim.

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