Começou logo mal na quinta-feira à noite, né? Eles não andavam, o treinador não arriscou, a bola não quis entrar e agora vou eu para Dublin puxar... pelo árbitro.
A sexta até foi porreira: apanhei a Vanessa, no Porto, e fomos matar saudades de um restaurante onde íamos amiúde nos tempos em que ela vivia na cidade. Depois: Queima na Portagem e os re-encontros habituais. Bem melhor, aliás, que a noite de sábado onde, há excepção do re-encontro com dois ou três pharmaoestianos que não via há algum tempo, tudo foi pior que na véspera.
A cereja no topo do bolo viria domingo, com uma cena digna de filme. Era uma e meia da manhã e estávamos a tentar dormir porque segunda-feira tínhamos de acordar às seis e meia da manhã. Na rua, um casal de estudantes discutia em altos berros e com linguagem hardcore há uns dez minutos. Eu, ignorando o conselho da sábia Vanessa, desci as escadas de casa dos meus pais, abri a porta e disse-lhes: "Oh pessoal, como é que é? Há gente a querer dormir." Do outro lado da rua mandaram-me umas "caralhadas". Virei costas e disse: "Tudo bem. Mas ou falam mais baixo ou chamo a polícia". Estava ainda a fechar a porta de casa, começo a ouvir a rapariga a gritar para o rapaz "não fazer isso" e começo a pensar: "Olha... queres ver que o gajo vai tocar à campaínha e acordar toda a gente?".
Posso-vos dizer que ele não tocou à campaínha. O que não invalida que não tenha acordado toda a gente. O que a inteligente criança resolveu fazer foi, espetar um valente biqueiro na porta de casa dos meus pais, e rebentar completamente a fechadura. Eu, vendo-me na presença de um ser que espumava raiva pelos olhos e era bem maior que eu, fiz o que me lembrei na altura: subi três degraus das escadas, agarrei num bocado de corda bem grossa que sei que o meu pai ali guarda, preparei-me para o pior e gritei à Vanessa para acordar o meu pai. Estava a puta armada!
O gajo, entretanto, rebentou a porta mas não entrou. A tipa puxou-o para fora. Aí saí eu para lhe perguntar se tinha noção do que tinha feito. Nisto chegam os meus pais. Aparecem uns gajos que estavam no Samambaia. O casal - qual deles o mais bêbado - alternava a calma com as ameaças e a vontade de pagar os estragos com a vontade de ir embora. No meio disto tudo, volta e meio aquilo ia descambando... Bem, teve tudo para ser daqueles filmes que depois acabam no Youtube com um gajo com um balázio metido. E a polícia que nunca mais chegava...
Quando chegou a polícia, o casal (no fundo, as únicas testemunhas além de mim) tinha uma história mirabolante que incluia um início em que o meu pai vinha para a rua com um pau o que, segundo eles, tinha desencadeado tudo. Eu estava claramente em desvantagem... era a minha palavra contra a deles os três: ele, ela e o vinho. E foi isto até às três e meia da manhã...
No fim, lá se trocaram os números de telefone e com ela já a ficar meio sóbria, lá se acordou que caso eles paguem o estrago da porta, não há queixa nenhuma. Na segunda-feira, segundo o meu pai, o rapaz ligou-lhe envergonhado e arrependido, a pedir desculpa a todos e a dizer que tinha tido uma atitude inaceitável, Depois ainda foi ter com os meus pais e acabou por pedir desculpas, pessoalmente. Ficou-lhe bem.
Quanto a mim, sempre a aprender: barulho na rua = chama a polícia.